Chamava-se Geni a não vestia de organdi mas era loura e tinha os olhos azuis.
Andávamos na mesma escola (era particular e por isso, nesses velhos tempos de separação inter-sexos, podia ser mista).
O pai estava preso, mas isso não me importava nada.
Escrevia-lhe bilhetinhos em papel pardo, que lhe entregava, disfarçadamente, pelo caminho.
Ela respondia-me no outro dia.
Uma vez, como não conseguiu entregar-me o papelinho antes de chegarmos à escola, passsou pela minha carteira e, rapidamente, meteu-me a cartinha no bolso.
Mas, desgraçadamente, o papel caiu.
O Rodrigo (acho que tinha ciúmes ) tinha topado tudo, e com ar inocente, foi entregar o bilhete a D. Sabina, a professora.
A senhora, uma excelente mestra, mas pautada pelos códigos vigentes na altura, chamou a Geni e deu-lhe duas reguadas. Era menina e, nesse tempo, as meninas não podiam tomar iniciativas no amor. Eu, macho, safei-me. Mas, como se impunha, lá fora, fui às fuças ao Rodrigo.
Nas longas e quentes alentejanas (morava em Évora nessa altura) ficava debaixo da janela dela, a dizer frases românticas. Que em certa ocasião foram escutadas pela vizinha de cima, o que significou que, na manhã seguinte, essas inspiradas tiradas, fizeram as delícias dos (sobretudo das ) moradores do prédio.
Nunca mais soube dela.
Chamamava-se Geni, não vestia de organdi, mas foi, aos oito anos, o meu primeiro amor.
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