segunda-feira, janeiro 24, 2005

O CALOR QUE COMPARTILHO CONVOSCO




Agora que o frio anda por aí à solta, compartilho convosco o calor da minha lareira.
É, claro, um calor virtual, só imagem. Fictício dirá quem não entende destas coisas.
Confesso-vos, que, há não muito tempo, também tinha bastantes reticências em relação aos caminhos percorridos nestas estradas internáuticas.
Pensava que, aqui, as pessoas vinham construir espaços de solidão, refugiar-se numa cela de onde espreitam artificialmente o mundo e onde fingem que convivem com os outros.
Ao fim de andar por cá, ainda não fez um mês, já consegui confirmar aquilo de que,afinal, já suspeitava.
Como em tudo na vida, não são os meios que utilizamos que determinam, por si sós, a qualidade dos nossos comportamentos.
O facto de estar sentado em frente a um teclado e um monitor não implica, necessariamente, que nos transformemos em seres solitários, desligados de sentimentos de solidariedade, alheados da realidade que está aí à nossa volta.
Esse é um risco que se corre, mas que não provém directamente do uso destas tecnologias que o progresso nos vai colocando à disposição. Diria que o risco vem antes das condições de vida que o mundo e as sociedades que estamos a criar nos determinam.
Seremos solitários ou não solidários com ou sem computador. Com ou sem internet. Sê-lo-emos, se deixarmos morrer o espírito crítico que nos permite vigiar o nosso uso destes meios. E que nos impede que eles nos afastem do convívio real e físico com aqueles que nos rodeiam. Que não permite que isto seja uma fuga, mas um sim uma forma, mais uma, de nos reencontramos, a cada passo com a vida. Com a nossa. Com a de todos nós.
Neste quase um mês de participação na blogosfera, já tive oportunidade de ver muita coisa boa. Algum lixo, também. Ainda um dia destes lia, num companheiro, uma nota que dizia que apagara um comentário que alguém lhe tinha deixado, com mensagem abjectas de racismo primário.
Mas, na maior parte dos casos, tenho encontrado gente boa. Gente divertida. Gente solidária. Gente sensível. Gente que divide com os outros, as suas alegrias e as suas tristezas. Como aquela companheira que acaba de perder um familiar muito próximo, num episódio que seguimos, com tristeza, através, precisamente, deste espaço onde nos movemos.E a quem, na medida do possível, tentámos acompanhar e encorajar .
Ao fim destes poucos dias, já tenho por aí alguns amigos que me batem à porta e a quem visito com frequência.
Por isso, hoje, que o frio se aproxima, apetece-me compartilhar com eles o calor da minha lareira.
Um destes dias li, algures, que a visão do fogo, de algum modo nos acalma e nos conforta.
Por isso, então, compartilho convosco este calor.
Mesmo que seja, apenas, de modo virtual.

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