quarta-feira, janeiro 26, 2005

COMO (FOI) É POSSÍVEL?


Na "Pública" do último Domingo, falava-se de Auschwitz.
E havia fotografias. Como as que acima se reproduzem.
Que mostram objectos que pertenciam aos mártires do horror nazi.
Sapatos, escovas de dentes, talheres.
Deixados à porta dos fornos crematórios onde foram chacinados.
E veio-me à recordação uma visita ao museu Jean Moulin, em Paris.
Onde se encontram muitos documentos sobre os tempos em que se resistia à barbárie.
Numa das vitrinas, um amontoado de velhos sapatos, como os da imagem.
Em frente à vitrina, um homem, de meia- idade, parado, olhando fixamente aqueles despojos.
Reparando mais atentamente e vi que chorava. Em silêncio, grossas lágrimas corriam-lhe pelo rosto.
Quem recordaria? Algum familiar longínquo? Ou seria, apenas, a dor anónima de quem não esquece o sofrimento de uma parte da humanidade de quem se sente irmão, apesar de já terem decorrido muitas décadas?
Nunca o saberei. Também emocionado, retirei-me discretamente.
Pensando: como foi possível tudo isto?
Pensando: como é possível haver por aí gente que consegue lamentar que hitler não tivesse terminado "a sua obra".
Pensando: que reponsabilidades não carregamos por termos visto crescer,com alguma indiferença, ao nosso lado, jovens que anseiam por reeditar o Holocausto. A quem não conseguimos explicar convenientemente, que, se o mentecapto tivesse conseguido cumprir integralmente os seus intentos, provavelmente hoje não estariam cá, como quase todos nós. Os que não obedecíamos aos parâmetros rácicos que esses indivíduos determinaram como sendo superiores e os únicos a vigorar.
Como foi possível?
Como é possível?

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