Volto ao baú das recordações que conservo dos dois anos minha vida passados em Timor.
E tiro de lá a passagem da inesquecível Amália por aquela então denominada "Província Ultramarina".
Andava a fadista em digressão pela Austrália, Hong-Kong, Macau, quando alguém se lembrou que nunca tinha ido à terra "em que o sol nascendo vê primeiro" como cantava Camões.
A aguardá-la uma pequena multidão (tendo em conta a dimensão local). Individualidaes destacadas e representantes dos poucos e modestos órgãos de informação da terra. Entre eles, estava eu, que, na altura, desempenhava o pomposo cargo de Chefe da Redacção do jornal " A Província de Timor" editado pelo exército e impresso ...em duplicador de stencil (hoje seria, provavelmente, em fotocopiador) ....
Presente também, o então correspondente local da RTP e igualmente jornalista, que é aquele senhor de cabelo quase rapado e de óculos sobre a cabeça, que se vê na imagem. O seu nome? José Manuel Ramos-Horta.
Acompanhei a viagem de Amália até ao hotel onde ficou alojada. Quando o autocarro onde seguia passou por mim, fotografei-a. Ela, vendo um sujeito fardado, de máquina em riste, fez-me a continência que também vos mostro.
No dia seguinte, na única sala de espectáculos de Dili, Amália cantou, naquele que, muito provavelmente, terá sido o espectáculo que pior correu na sua carreira. Desde logo porque, a assistir, não haveria nem uma centena de pessoas, e, todas elas, convidadas à borla. Depois, porque o som, a cargo do titular de uma banda(conjunto, como então se dizia) local, deu o berro, começou a guinchar e a soluçar, com grande desespero do jovem músico que tentava acalmar o amplificador, colocando-lhe uma ventoinha a soprar por cima.
Até que a Amália, bem ao seu jeito lhe atirou:
- Ó filho! Está quieto e deixa lá isso que eu canto mesmo sem microfone.
E, de facto, para tão pouca gente, não precisava de aparelhgem.
É desse espectáculo que vos mostro parte da primeira fila.
A jovem que se vê batendo palmas é Natália Carrascalão (que, na legislatura anterior da nossa Assembleia da República integrou o grupo parlamentar do PSD), membro da família que, mais tarde, haveria de aparecer nas bocas do mundo, por razões algo trágicas, aquando da ocupação Indonésia.À sua esquerda, novamente, o Ramos-Horta. Nessa altura ainda provavelmente nem sequer sonhando que seria, um dia Prémio Nobel, Ministro e presumível candidato a Secretário-Geral da ONU.
Recentemente, através de um amigo de um familiar, tive ocasião de lhe enviar uma mensagem e algumas fotos desse tempo. Ainda se lembrava desse tal Alferes que, compartilhava com ele andanças jornalísticas e que, depois do 25 de Abril, lhe fez a primeira entrevista política da sua carreira.
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