Com a devida autorização da Kalinka, que o divulgou no seu espaço, reproduzo aqui um delicioso poema em honra dos meus amigos alentejanos.
Devo dizer que eu, próprio, apesar de ter nascido cá para o Norte, me considero meio alentejano, pois fui feito em Évora e vivi lá seis dos melhores anos da minha vida.
O CARACOLI
Tava eu tirando moncos
lá da cana do nariz
enquanto fazia uma mija
assim tipo chafariz
Tinha a bexiga tã chêia
que fiquê lá uma hora
quando me assomê em volta
tinha ido tudo embora
Sacudi o coiso e tal
enquanto coçava a bilha
de tal manêra atascado
que o entalê na braguilha
tirê as botas do lodo
que fizera na mijada
sacudi tamém as calças
sempre com ela entalada
pedi ajuda à Ti micas
que cerca dali morava
mas depilou-me os tomates
a força com que a puxava
ensanguentado na pila
fui aos tombos pelo monti
vomitando quasi as tripas
nã sêi se queres que te conti
como comera dôs pães de quilo
e um garrafão p'rajudar a empurrare
na admira que tivesse
três horas a vomitare
Detê-me na palha fresca
para ver se descansava
enterrê-me logo em bosta
de uma vaca que passava
E foi assim que essa tarde
conheci um caracoli
os dois deitados na palha
c'os cornos a secare ao soli
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