domingo, novembro 20, 2005

NASCESTE HOJE, MAIS UMA VEZ



Nasceste hoje, não sei a que horas, há anos.
Há séculos. Porque nesse dia, ainda não tinhas nascido para mim.
Ou talvez sim, porque afinal, sem o saberes, sem eu o saber, já fazíamos parte da mesma história.
Nasceste nesse dia frio de Novembro e eu estava longe. Menino já a abrir os olhos espantados para a vida.
Por onde andaste? Por onde andei? Que encruzilhadas, que rotas, que risos, que lágrimas, que espantos, que vitórias e desencantos nos amadureceram um para o outro?
Até que chegaste e eu senti que tinhas chegado, finalmente. Quando, naquela tarde, desci ao fundo dos teus olhos sem fundo para descobrir o significado da espera.
Foi preciso teres tardado. Tardaste o suficiente para nos merecermos. Para nos usufruirmos. Não poderia ter sido de outro modo. Afinal sempre soube que eras tu quem aì vinha.
E foi naquela tarde perfeita, com o mar por testemunha, que afinal, nasceste de novo, dessa vez só para mim, quando a minha mão pousou suavemente na tua, apenas para te dizer que, transposta essa fronteira, já não havia retorno para nós.
E, a partir daí, nasces para mim todos os dias. Quando acordas de manhã ao meu lado. Mesmo quando, quase sempre rabujento, nem sequer te digo "bom dia!". Ou quando sinto uma súbita e renovada necessidade de mergulhar no fundo desse imenso olhar de líquidos sargaços. Ou ainda quando, tendo nascido dentro de ti uma outra vida, me prolongas diariamente para além de mim mesmo.
Por tudo isto, e porque afinal, não nasceste apenas no dia de hoje, nada tenho de muito especial a trazer-te para que este dia de aniversário, seja muito diferente dos outros. Talvez apenas aquele ramo das flores humildes que temos no jardim e onde escrevi a palavra que é costume dizer-se nestes dias.
Talvez apenas um beijo um pouco mais demorado, mais terno, mais saboreado.
Com o sabor da felicidade por teres nascido para mim, companheira!

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