Já aqui vos falei do meu barbeiro, o Manel.
Utilizo os seus serviços há mais de trinta anos.
O seu estabelecimento era pequeno e modesto, mas muito limpo.
E digo era, porque, há tempos, ao passar pelo local onde funcionava a barbearia vi, com surpresa, que estava fechada, sem móveis, abandonada.
Cheguei a temer o pior. Que teria acontecido ao Manel?
Felizmente, no dia seguinte, dei com o homem no passeio fronteiro e fui falar com ele.
Ao perguntar-lhe o que tinha sucedido, esclareceu-me que tinha sido, pura e simplesmente, despejado da minúscula sala que tinha alugada há mais de quarenta anos. Pelos vistos, havia pendências em tribunal entre a família propietária do terreno (originalmente com fins agrícolas) e a família proprietária da habitação (que ali foi construída à revelia da legalidade, como aconteceu muitas vezes no século passado). E, como é de se supor, neste caso, quem se tramou foi "o mexilhão". Ou seja, o Manel.
E, de um momento para o outro, o barbeiro via-se sem meios de subsistência.
Dispunha-se, mesmo, a vir a casa dos clientes, para cortar os cabelos. Fiquei com o seu número de telemóvel, porque queria, de algum modo, ajudar.
Entretanto, e porque o Manel é muito popular naquela zona e tem ali muita freguesia que o estima, conseguiu-se arranjar uma solução (provisória) para ele continuar a trabalhar. Ontem, fui lá "à tosquia".
Trata-se de um salão enorme (com mais de 200 metros quadrados de área) onde funcionou a exposição de uma fábrica de candeeiros.
Num canto do compartimento, o Manel colocou a cadeira, um espelho e uns móveis improvisados. Todo o espaço restante está deserto.
A sala é tão grande, que, quando se conversa, as palavras perdem-se no espaço.
Agora, que o tempo está quente, transpira-se, pois as janelas não têm persianas nem cortinas ( O Manel pôs umas toalhas para disfarçar). No Inverno vai ali fazer um frio de rachar.
Mas, enquanto puder, continuarei a utlizar os serviços do meu barbeiro.
Acho que ser solidário com quem é atingido por uma contrariedade séria na vida, não pode ficar fora de moda...
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