Um artista que, ao seu modo, marcou uma época.
Era, acima de tudo, um português, que para além de fazer rir outros portugueses, também os fez pensar.
O Zip-Zip, de que foi um dos impulsionadores decisivos foi o primeiro programa de televisão que furou a barreira do cinzentismo cultural de um país em que era imposto o pensamento único e tudo era controlado.
Às segundas feiras, entre Maio e Dezembro de 1969, era certa a minha presença frente ao televisor, aguardando, com expectativa, o que se iria passar naqueles minutos que eram uma espécie de oásis na programação da RTP.
Quantos artistas, cantores, pintores, cuja presença não era habitual nos grandes meios de comunicação, por ali passaram.
E, depois, esses monólogos que se ouviam a cada hora na rádio, com destaque para essa inesquecível "Ida à Guerra de 1908". Onde se fazia, através da sátira inteligente, a denúncia da inutilidade dos conflitos armados. Combater a guerra realçando o seu lado ridículo foi uma aposta inteligente do actor. E, também, um acto de coragem, pois, a guerra colonial estava no auge.
Assistia a algumas peças protagonizadas pelo Solnado. Refiro, em especial, "Bravo Soldado Schweik", baseado num livro de Jaroslav Hasek, que eu tinha lido aos 19 anos e tinha relido quando andei na tropa, pois era um libelo certeiro contra o militarismo acéfalo.
Num desses espectáculos, no teatro Sá da Bandeira no Porto, os espectadores foram avisados de que, no final da peça deveriam permanecer na sala para assistirem a uma rábula do actor. Foi então que ouvi, pela primeira vez, mais um dos seus monólogos ,"A Bombeiral da Moda", que foi nessa altura gravada ao vivo, para poder ter, como fundo, as gargalhadas do público. Por isso, de certa forma, colaborei no disco que depois foi editado.
Num desses espectáculos, no teatro Sá da Bandeira no Porto, os espectadores foram avisados de que, no final da peça deveriam permanecer na sala para assistirem a uma rábula do actor. Foi então que ouvi, pela primeira vez, mais um dos seus monólogos ,"A Bombeiral da Moda", que foi nessa altura gravada ao vivo, para poder ter, como fundo, as gargalhadas do público. Por isso, de certa forma, colaborei no disco que depois foi editado.
E também tive o privilégio de ter um texto meu lido (enviado para um concurso promovido pelos realizadores) pelo grande actor, no programa radiofónico "Tempo Zip" que, foi uma espécie de prolongamento do "talk show" televisivo.
Recordo ainda, uma apoteótica recepção que lhe foi prestada aqui no Porto, na estação de S. Bento, numa altura em que veio para uma sessão de autógrafos ali na Vadeca da rua de Santo António (hoje 31 de Janeiro). Nunca a velha estação ferroviária esteve pejada de tanta gente. Situação talvez apenas comparável ao acolhimento do General Sem Medo, Humberto Delgado, uns anos antes.
Mas, os grandes artistas, os que marcam o seu tempo, podem desaparecer fisicamete, que a sua memória os fará sempre reviver.
É o caso de Raul Solnado.
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