Há tempos, na última página do JN, vinha uma notícia que inevitavelmente me chamou a atenção. A Laura de Jesus, a "Laurinha da Unicepe" ia-se reformar, após 40 anos de trabalho.
Para quem não saiba, a Unicepe- Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, foi fundada em 1963, por um grupo de jovens estudantes que assim quiseram criar mais uma âncora de resistência cultural à ditadura.Orgulho-me de ser um dos seus primeiros sócios, de ter sido seu dirigente e funcionário, até perto dos anos setenta.
E lembro-me muito bem da chegada da Laura à Unicepe. Primeiro, como empregada do pequeno bar que tínhamos, fazendo também limpezas. Entrando timidamente para um meio de gente com habilitações literárias de nível superior e, ainda por cima, não muito bem vista pelas "autoridades" de então.
Mas, apesar da sua escolaridade não ser elevada, a Laurinha, mulher inteligente , foi-se integrando no espírito da cooperativa, foi aprendendo mais e mais sobre livros e cultura, até se tornar uma peça-chave do funcionamento da Unicepe.
Agora, a Laurinha, aos 64, vai embora, com muitas recordações para evocar.
Sobre muitos vultos da cultura nacional que passavam por aquelas salas de um vetusto edifício da Praça de Carlos Alberto, onde ainda hoje se encontram as instalações.
E sobre um tempo de medos e coragens, que por ali vivíamos, sempre com a perspectiva de nos entrarem pelas portas adentro, aqueles vultos cinzentos e sombrios, para quem a cultura, como a Goebells, fazia "puxar da pistola".
Foi com pessoas como a Laura de Jesus que a Unicepe conseguiu resistir a muitas crises e a muitos obstáculos.
Em nome dos pioneiros da Unicepe, em memória desses tempos que agora recordamos, por toda a tua dedicação, por teres sabido sempre "vestir a camisola" da nossa Cooperativa,
OBRIGADO LAURINHA!
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