O "Timor" era um velho navio da frota colonial que assegurava as ligações entre a então chamada "Metrópole" e a então chamada "Província".
Quando o conheci, já ele tinha uma provecta idade, e os vestígios da velhice acumulavam-se por todo o lado.
Havia, no entando, um sector que eu valorizava bastante. Era o salão de acesso ao restaurante, que tinha uma escadaria dupla encimada por uma grande pintura representando o Régulo D. Aleixo Corte-Real, um histórico herói timorense.
Mas o "Patas de Aço", como era conhecido na gíria local, lá se arrastava pelos sete mares, numa viagem que durava cerca de 45 dias, com passagens por Angola e Moçambique. Ia a Timor duas vezes por ano.
Certa vez. o barquito avariou e esteve muito tempo sem aparecer. Foi uma desgraça... Os géneros começaram a faltar e tivemos de improvisar soluções para conseguirmos subsistir.
Mas, quando ele aportava a Timor, era uma festa!
O navio trazia tropas para rendição das que já tinham cumprido a comissão de serviço e tranasportava víveres e outros géneros de que dependia a nossa vida. Como, por exemplo, as batatas, a cerveja, o tabaco, o vinho e por aí fora.
Nos poucos dias em que o "Timor" ali permanecia, ia-se até lá dentro. Para tomar um café. Para tomar um pequeno almoço à "moda da Metrópole". Para beber um "gin orange". E para comprar tabaco estrangeiro de contrabando, que os tripulantes exibiam às claras.
Os próprios timorenses, faziam os possíveis para subirem a bordo, pois o navio, apesar de até nem ser muito grande, era, para eles, imponente.
E entre eles, havia algumas pobres prostitutas locais que ali iam oferecer os seus serviços aos marinheiros, saturados de tanto mar.
Recordo ainda uma almoçarada a bordo do "Timor" conseguida por um amigo que conhecia um tripulante. Comemos uma soberba caldeirada, regada por um vinho tinto que, mesmo não sendo propriamente um "Barca Velha" nos pareceu o melhor dos néctares. De tal modo que, finda a refeição e regressando a terra firme, não fora agarrarmo-nos firmemente às cordas que ladeavam a escada, teríamos todos mergulhado nas cálidas águas da baía de Dili.
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