quarta-feira, setembro 10, 2008

Aí estão as esperadas "melhorias" educativas.

O Primeiro Ministro e a Ministra da Educação, acabam de anunciar aos quatro ventos " os bons resultados obtidos no ano passado no ensino básico e secundário".
Por exemplo, no 9º ano, a taxa de reprovações desceu 7,5%, fixando-se agora em 14,5%.
Quem anda por perto das coisas da Educação (designadamente professores, alunos e pais) já estava à espera destas "novas".
Os governantes, é claro, atribuem estas supostas melhorias, às suas políticas.
"É isso que se espera das escolas, é isso que se espera dos professores, foi isso que as escolas e os professores fizeram nos últimos anos: trabalhar intensamente, de uma forma diligente, esforçada, para melhorar os resultados", disse, aliás, a ministra da Educação.
Mas quem conhece a realidade e não embarca em ficções, sabe que entre os discursos políticos e a verdade dos factos, vai uma grande distância.
É evidente que os professores estiveram mais horas na escola. Mas será que trabalharam mais com os alunos, investiram mais na relação pedagógica? Será que foram mais respeitados, sentiram os alunos mais motivados para aprender?
Não! Os professores foram essencialmente ocupados com trabalho burocrático. Com a elaboração de resmas de relatórios, fichas, planos. E também com a produção de documentos tendo em vista a avaliação do desempenho docente. E não se mistifiquem as questões, falando nas "aulas de substituição" . Na maior parte dos casos, essas actividades pouco mais fazem do que manter os alunos dentro de uma sala de aula, para não andarem a fazer tropelias pela escola. Não estão a aprender mais; estão, apenas "ocupados".
A melhoria das estatísticas? Era evidente que tal iria acontecer.
Porquê?
Repare-se que o Ministério vai dizendo que as classificações a obter pelos docentes estarão relacionadas com os resultados escolares dos alunos e da própria escola ( as famosas quotas para as menções de excelência, dependem desses resultados). Aliás, os Conselhos Executivos, subtilmente pressionados "de cima"(designadamente a nível de orçamentos) vão, por sua vez, instalando nos professores a ideia de que a escola onde trabalham tem de "ficar bem vista", para não perder benesses.
Por outro lado, com a criação das famosas "Novas Oportunidades" e "os exames de recurso" para os faltosos, começa-se a instalar nas escolas a convicção de que não vale a pena reprovar quem , passados uns meses, estaria a tirar um curso de formação acelerado (por exemplo de futebolista), ser "repescado" e ficar certificado.
Por outro lado, é preciso não esquecer a indisfarçável facilidade das provas de exame de 2008, designadamente no 9º ano de Matemática.
Tudo isto conjugado, aponta para um clima de facilitismo que não poderia deixar de se reflectir no melhoria do "números".
Se o Ministério quisesse ser um pouco mais rigoroso, poderia, por exemplo, mostrar a evolução dos resultados ao longo dos três períodos lectivos. No 1º período, é bem sabido que o número de negativas é esmagadoramente superior que acontece no final do ano. Porque os alunos melhoraram decisivamente, aprenderam o que não tinham aprendido, esforçaram-se mais? Só quem quiser iludir a realidade é que suporá que os resultados finais traduzem melhor a verdadeira dimensão das aprendizagens do que os intermédios.
Como antigo professor, como alguém que se empenhou, ao longo da sua vida profissional, em lutar por uma escola pública de qualidade , muito gostaria que estas "melhorias" fossem reais,.
Que os jovens do meu país, fossem cada vez mais cultos, escrevessem cada vez malhor, fossem cada vez mais ágeis na matemática.
Mas sei que não é assim. Os nossos alunos não estã a progredir. Antes pelo contrário.
Mas vêm aí novos estudos internacionais . O PISA 2009, vai certamente tirar muitas dúvidas.
Aí se comecerá a ver se estas tão cantadas melhorias de aprendizagens serão assim tão gritantes como agora (que se aproximam eleições) se está a fazer crer.

2 comentários:

Odele Souza disse...

Não é ser pessimista, mas realmente às vesperas de eleições tudo se promete e as "melhorias educativas" não fugiriam à regra. É uma pena que a maioria das promessas dos políticos raramente se concretizam.

Boa quarta-feira.

Andreia disse...

COncordo inteiramente contigo!