Porque representa, em grande medida, aquilo que sinto no início de mais um ano lectivo em que já não tenho de comparecer na escola; porque este sentimento é comum, actualmente, a milhares de colegas;porque é mais um documento que espelha o estado de desânimo, desespero e frustração a que chegou a classe docente.
Por tudo isto, aqui transcrevo uma carta aberta que um colega, no dia 1 de Setembro, foi afixar na Sala de Professores da escola onde trabalhou durante 37 anos.
CARTA ABERTA AOS MEUS COLEGAS PROFESSORES
Pela primeira vez em muitos anos não retomo a actividade docente no
início do ano lectivo. Mas não o lamento e é isso que me dói. Sempre
disse que queria ficar na escola mais alguns anos para além do tempo da
reforma, desde que tivesse condições de saúde para tal. Contudo, vi-me
'obrigado' a sair mais cedo, inclusive aceitando uma penalização de 4,5%
sobre o vencimento.
Não sou protagonista de nada: o meu caso é apenas mais um no meio de
milhares de professores a quem este Governo afrontou. Só quem não
conhece as escolas e tem uma ideia errada da função docente é que não
entende isto.
É doloroso ouvir pessoas que sempre deram o máximo pela sua profissão,
que amam o ensino e têm uma ligação profunda com os alunos, a dizerem
que estão exaustas e que lamentam não serem mais velhas para poderem
reformar-se já. Vejo com enorme tristeza estes colegas a entrarem no ano
lectivo como quem vai para um exílio. Compreendo-os bem…
Este estado de coisas tem responsáveis: são a equipa do Ministério da
Educação e o Primeiro-ministro. A eles se deve a criação de um enorme
factor de desestabilização e conflito nas escolas que é a divisão
artificial da carreira docente entre 'professores titulares' e os outros
que o não são. Todos fazem o mesmo, a todos são pedidas as mesmas
responsabilidades, mas estão em patamares diferentes, definidos segundo
critérios arbitrários. A eles se deve um sistema de avaliação de
desempenho que não é mais do que a extensão administrativa daquele erro
colossal. A eles se deve a legislação que não reforça a autoridade dos
professores na escola, antes os transforma em burocratas ao serviço de
encarregados de educação a quem não se pedem responsabilidades e de
alunos a quem não se exige que estudem e tenham sucesso por mérito próprio.
No ano passado 100 000 mil professores na rua mostraram que não se
conformavam com este estado de coisas. O Governo tremeu. Mas os
Sindicatos de professores não souberam gerir esta revolta legítima.
Ocupados por gente que não dá aulas, funcionalizados e alienados pelo
sistema, apressaram-se a assinar um acordo que nada resolveu, antes
adiou um problema que vai inquinar o ano lectivo que hoje começa.
Todos os que podem estão a vir-se embora das escolas, é a debandada
geral. Gente com a experiência e a formação profissional de muitos anos,
que ainda podiam dar tanto ao ensino, retiram-se desgostosos,
desiludidos, magoados. Deixaram de acreditar que a sua presença era
importante e bateram com a porta. O Governo não se importa, nada faz
para os segurar: eram gente que tinha espírito crítico e resistia. «Que
se vão embora, não fazem cá falta nenhuma!»
Não, não tenho pena de não voltar à escola. Pelo contrário: entro em
Setembro com um enorme alívio. Mas não me sinto bem. Estou profundamente
solidário comos meus colegas de profissão e tenho a estranha sensação de
que os abandono, embora saiba quanto isso é pretensioso da minha parte.
Vejo com apreensão e desgosto que, trinta e sete anos depois de começar
a ser professor, a escola não está melhor. Sim, regressarei hoje à
escola. Mas só para dar um imenso abraço àqueles que, corajosamente,
como professores no activo, enfrentam um novo ano lectivo.
Torres Vedras, 1 de Setembro de 2008
JMD»
CARTA ABERTA AOS MEUS COLEGAS PROFESSORES
Pela primeira vez em muitos anos não retomo a actividade docente no
início do ano lectivo. Mas não o lamento e é isso que me dói. Sempre
disse que queria ficar na escola mais alguns anos para além do tempo da
reforma, desde que tivesse condições de saúde para tal. Contudo, vi-me
'obrigado' a sair mais cedo, inclusive aceitando uma penalização de 4,5%
sobre o vencimento.
Não sou protagonista de nada: o meu caso é apenas mais um no meio de
milhares de professores a quem este Governo afrontou. Só quem não
conhece as escolas e tem uma ideia errada da função docente é que não
entende isto.
É doloroso ouvir pessoas que sempre deram o máximo pela sua profissão,
que amam o ensino e têm uma ligação profunda com os alunos, a dizerem
que estão exaustas e que lamentam não serem mais velhas para poderem
reformar-se já. Vejo com enorme tristeza estes colegas a entrarem no ano
lectivo como quem vai para um exílio. Compreendo-os bem…
Este estado de coisas tem responsáveis: são a equipa do Ministério da
Educação e o Primeiro-ministro. A eles se deve a criação de um enorme
factor de desestabilização e conflito nas escolas que é a divisão
artificial da carreira docente entre 'professores titulares' e os outros
que o não são. Todos fazem o mesmo, a todos são pedidas as mesmas
responsabilidades, mas estão em patamares diferentes, definidos segundo
critérios arbitrários. A eles se deve um sistema de avaliação de
desempenho que não é mais do que a extensão administrativa daquele erro
colossal. A eles se deve a legislação que não reforça a autoridade dos
professores na escola, antes os transforma em burocratas ao serviço de
encarregados de educação a quem não se pedem responsabilidades e de
alunos a quem não se exige que estudem e tenham sucesso por mérito próprio.
No ano passado 100 000 mil professores na rua mostraram que não se
conformavam com este estado de coisas. O Governo tremeu. Mas os
Sindicatos de professores não souberam gerir esta revolta legítima.
Ocupados por gente que não dá aulas, funcionalizados e alienados pelo
sistema, apressaram-se a assinar um acordo que nada resolveu, antes
adiou um problema que vai inquinar o ano lectivo que hoje começa.
Todos os que podem estão a vir-se embora das escolas, é a debandada
geral. Gente com a experiência e a formação profissional de muitos anos,
que ainda podiam dar tanto ao ensino, retiram-se desgostosos,
desiludidos, magoados. Deixaram de acreditar que a sua presença era
importante e bateram com a porta. O Governo não se importa, nada faz
para os segurar: eram gente que tinha espírito crítico e resistia. «Que
se vão embora, não fazem cá falta nenhuma!»
Não, não tenho pena de não voltar à escola. Pelo contrário: entro em
Setembro com um enorme alívio. Mas não me sinto bem. Estou profundamente
solidário comos meus colegas de profissão e tenho a estranha sensação de
que os abandono, embora saiba quanto isso é pretensioso da minha parte.
Vejo com apreensão e desgosto que, trinta e sete anos depois de começar
a ser professor, a escola não está melhor. Sim, regressarei hoje à
escola. Mas só para dar um imenso abraço àqueles que, corajosamente,
como professores no activo, enfrentam um novo ano lectivo.
Torres Vedras, 1 de Setembro de 2008
JMD»
1 comentário:
É muito triste o que o ministério da educação anda a fazer!
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