O V. entrou, como funcionário auxiliar de acção educativa, para a escola onde trabalhei, vindo de um outro sector da função pública, que nada tinha a ver com Educação.Estava eu no Conselho Executivo.
O V. quando chegou, não tinha a formação adequada para lidar com jovens estudantes.Mas, rapidamente, "vestiu a camisola" e, a breve trecho, já era um excelente elemento da equipa. Da "nossa equipa".
Trabalhador dedicado e empenhado. De trato afável, sempre pronto para o que fosse preciso fazer. Desde uma reparação ou manutenção de instalações, ao chamado "serviço de módulo", em que se dá assistência a professores e alunos, durante o funcionamento das aulas, até à vigilância da portaria.
Mas, o V. adoeceu. Gravemente.
Teve problemas pulmonares complexos. Com hemoptises frequentes. Com internamentos prolongados. Teve de colocar um pacemaker.Voltava ao serviço, mas, debilitado, já sem forças para ser o V. que sempre foi.
Foi a juntas médicas, carregado de relatórios, dos médicos que o assistiam. Esperançado de que lhe dessem a aposentação por incapacidade, que todos julgávamos ser óbvia.
Mas, não!
"Apto para trabalhar".
Ele, a quem os clínicos impediam de fazer esforços, de apanhar frio.
Entretanto aposentei-me, e, por vezes, falava com o V. Estava agora a prestar serviço na biblioteca, onde, por bom senso, o actual órgão executivo da escola o colocou.
"Apto para o serviço".
Há dois dias, foi internado, de urgência, com mais um grave problema de saúde.
"Apto para o serviço".
Vai hoje a enterrar, o V.
O V. cujo relacionamento com os outros sempre cativou alunos, professores e colegas. Que hoje andavam mais silenciosos, pesarosos pela perda de "um de nós".
"Apto para o serviço".
Mais um caso de insensibilidade das tais "juntas médicas".
Só que este, quase de certeza, não virá nos jornais.
Adeus, V. Obrigado pelo muito que deste à escola que foi a minha!
1 comentário:
E uma tristeza! Como é que é possível que coisas dessas aconteçam!
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